Implementação de Gestão Integrada de Informações e Processos de Projetos de SPCS em Plataforma de Engenharia na Eletrobras Chesf

Autores: Eduardo Magalhães (SM Energy) | Renata Fernandes (SM Energy) | Márcio Robério de Souza (Eletrobras Chesf) | Richardson Fernandes (Eletrobras Chesf) | Gleydson Soares (SM Energy) | Saulo Soares (ESC Engenharia)

RESUMO

Este trabalho aborda a implementação de sistema de gestão de informações e processos para projetos de Sistemas de Proteção, Controle e Supervisão (SPCS) na Eletrobras Chesf. Detalham-se a escolha de metodologia EIM e plataforma de engenharia, cadastramento e estruturação de documentos no banco de dados, padronização de processos de atualização da documentação e modelagem de fluxo de trabalho. A plataforma de engenharia reúne a documentação sob estrutura hierárquica padronizada e com controle de acesso. Resultados incluem melhorias na consulta de dados, padronização de processos, controle de versionamento e agilidade em resposta a ocorrências.

PALAVRAS-CHAVE

Gestão dedados, EngineeringInformation Modeling (EIM), Plataforma de engenharia, SPCS, Gestão de ativos.

1.0 INTRODUÇÃO

A gestão eficaz de informações é fundamental para a operação bem-sucedida de Sistemas de Proteção, Controle e Supervisão (SPCS). No cenário de gestão desses ativos, são notórios grande volume de dados, presença de processos dinâmicos e existência de diversas fontes de informação. A crescente complexidade das infraestruturas elétricas torna imperativa a adoção de sistemas de gestão de informações que possam lidar com essas propriedades. A implementação de um sistema de gestão na Eletrobras Chesf foi impulsionada pela identificação de várias deficiências.

Antes da implementação da estrutura atual na Eletrobras Chesf, a gestão da documentação enfrentava diversos desafios. A documentação física, considerada a mais atualizada, estava dispersa entre as instalações (subestações) e as sedes regionais de manutenção. Quando havia arquivos digitais, estes estavam espalhados em vários sistemas de repositórios e até mesmo em arquivos pessoais, sem que houvesse um acompanhamento adequado das atualizações feitas no sistema. Além disso, não existia um processo padronizado para a revisão e controle de documentos, o que resultava em um processo de revisão e elaboração de projetos descentralizado e desorganizado. Essas falhas geraram várias limitações, como a falta de dados confiáveis, dificuldades de acesso à informação, ausência de controle sobre as alterações e revisões, além de inconsistências nos documentos. Historicamente,essas fragilidades causaram consequências graves, incluindo atrasos significativos na implantação de novos empreendimentos e até falhas operacionais. A identificação desses problemas evidenciou a necessidade urgente de uma abordagem mais robusta e integrada para a gestão de informações e processos de SPCS.

Este estudo descreve a implementação de um sistema abrangente de gestão de informações e de processos para projetos de SPCS na Eletrobras Chesf: GDTEC – Gestão de Documentação Técnica de SPCS e Telecomunicações. O sistema proposto integra as informações relativas a SPCS em uma plataforma de engenharia utilizando-se de abordagem EIM (Engineering Information Modeling). Com a plataforma de engenharia adotada, pode-se promover gerenciamento integrado de informações, centralizar dados, automatizar processos e aperfeiçoar a acessibilidade aos dados.

O trabalho detalha as estratégias adotadas para a implementação: seleção de tecnologia e metodologia adequadas, a modelagem de processos de atualização de documentos, estabelecimento de critérios de validação, definição de metadados, execução de plano de digitalização e cadastramento dos projetos. Além disso, destaca-se a adoção de Scrum como metodologia de gestão do processo de implementação.Desse modo, promoveu-se uma abordagem ágil a fim de facilitar adaptações às mudanças detectadas no progresso de implementação de sistema de gestão.

O estabelecimento de gestão integrada na Eletrobras Chesf indica melhorias na qualidade, confiabilidade e acessibilidade da informação. Outro fator de grande impacto positivo foi a padronização de processos de revisão e atualização de projetos, com o apoio de automatismos programados na plataforma. Finalmente, a utilização da plataforma de engenharia abriu novas possibilidades para integração de informações de outras disciplinas e gestão dedados.

2.0 ESTRATÉGIA DE IMPLEMENTAÇÃO

A implementação de sistema de gestão de informações e processos para projetos de SPCS no âmbito da Eletrobras Chesf seguiu uma abordagem sistemática. Listam-se as etapas do processo executadas: levantamento e seleção de tecnologia e de metodologia, estabelecimento de estrutura da informação e metadados, modelagem de fluxo de trabalho de agentes e de processos de atualização da documentação, definição de critérios de validação de digitalização e cadastramento, elaboração de itinerário de digitalização e método para cadastramento de projetos.

2.1 Pesquisa e seleção de metodologia

No contexto da gestão de informações e processos para os sistemas de proteção, controle e supervisão – área crítica da operação de sistemas elétricos –, a modernização de metodologia aplicada é crucial. Assim, a seleção minuciosa da metodologia adequada é etapa essencial na implementação de sistemas complexos, como é ocaso da gestão de dados de projetos de SPCS. Para o caso da Eletrobras Chesf, realizou-se análise das necessidades e desafios da organização, de modo que foi adotada a metodologia Engineering Information Modeling (EIM) para nortear a implementação do sistema de gestão.

O termo Engineering Information Model é utilizado por (1) no contexto da indústria de energia elétrica. Nesse sentido, a metodologia EIM é o BIM aplicado em contextos de engenharia distintos ao ramo de construção. Guia de implementação internacional do BIM (2) indica o uso de termos diferentes de “Building” para denominara metodologia em outras indústrias, uma vez que este termo está intrinsicamente relacionado a edificações e construções civis.

Os projetos de SPCS na Eletrobras Chesf envolvem a gestão de grandes volumes de dados técnicos, alterações frequentes, necessidade de disponibilização de revisões atualizadas, entre outros desafios. Em vista disso, a metodologia EIM foi escolhida para implementação de sistema de gestão por diversas características que endereçam essas dificuldades (3):

a. Centralização das informações: indica a criação de um repositório centralizado de informações.Nesse, armazena-se toda a documentação técnica e modelam-se os dados de engenharia.Desse modo, pode-se gerenciar as informações de forma integrada em uma plataforma de engenharia.

b. Modelagem de objetos complexos: é fundamental que o banco de dados suporte a modelagem de objetos complexos. É necessário estabelecer modelo coerente para o objeto representado,dentro de estrutura organizada e lógica. Com isso, há dependência da capacidade da ferramenta de descrição do objeto com quantos dados forem necessários, além da possibilidade de se estabelecer relações entre tais objetos no banco dedados. Desse modo, dados de engenharia que apresentam complexidade intrínseca podem ser modelados.

c. Acessibilidade e a confiabilidade das informações: prescreve um ambiente que possibilita facilidade para consulta de dados. Essa característica é fundamental, tendo em vista a relevância dada à modelagem da informação e à centralização dos dados. Em acréscimo, a manutenção da versão mais atualizada da informação deve ser garantida. É essencial que os dados apresentem qualidade e confiabilidade.

d. Padronização de processos: viabiliza a padronização no registro dos dados, uma vez que o procedimento para tal deve ser uniforme. Com isso, há maior consistência nas informações durante todo o ciclo de vida do ativo. Outro fator relevante decorrente da padronização de processos é a redução da ocorrência de erros e consequentes falhas no sistema.

e. Colaboração: permite atuação de equipes multidisciplinares em mesmo projeto. O repositório centralizado deve possibilitar o acesso e a edição simultânea de projetos por usuários. Dessa maneira, há ambiente que promove o compartilhamento de informações para a elaboração de um produto ou para definição de ação corretiva em ativos. Essa propriedade garante o aprimoramento da coordenação de atividades interdependentes, como as que constituem os projetos e manutenção de SPCS.

f. Flexibilidade: informações adicionais podem surgir em atividades que impactam a modelagem da informação.Nas fases iniciais do projeto, é especialmente comum enfrentar questões de incerteza, como em decisões ainda pendentes por parte de cliente ou proprietário,a exemplo da escolha de equipamentos. Devido às mudanças em requisitos e funcionamento, é indispensável que se apresente adaptabilidade à modelagem dedados. Deve-se garantir suporte para alterações ao longo do ciclo de vida do ativo, sem exigência de retrabalhos dispendiosos.

2.2 Pesquisa e seleção de tecnologia

Além da escolha da metodologia, também foi realizada definição de ferramenta a partir de análise das soluções tecnológicas disponíveis no mercado. Com o intuito de implementar gestão integrada de informações e processos, optou-se por uma plataforma de engenharia. Em acréscimo ao cumprimento de requisitos específicos da Eletrobras Chesf, a plataforma de engenharia adotada apresenta propriedades que atendem às expectativas advindas da metodologia EIM. Dentre as características da ferramenta, destacam-se principais a seguir:

a. Fonte única da verdade: a plataforma de engenharia é um repositório central da informação. Todas as informações são armazenadas no banco de dados. Com isso, o gerenciamento dos dados é facilitado: a versão presente no repositório é a atualizada, a qual está acessível aos usuários para consulta e edição. Assim, as modificações realizadas por um colaborador estão disponíveis para quaisquer outros usuários:o conteúdo do banco de dados reflete precisamente a situação atual do ativo.

b. Estruturação inteligente de dados: a plataforma de engenharia utiliza um banco de dados estruturado e orientado a objetos que permite a modelagem de objetos complexos, típicos de dados de engenharia. O modelo é construído por meio do cadastro de múltiplos atributos que caracterizam cada objeto. Esses atributos podem ser criados diretamente pelos usuários no repositório. Os objetos são organizados em uma estrutura hierárquica no banco de dados. Além disso, é possível estabelecer associações entre os objetos para refletir as relações físicas ou funcionais entre os elementos. 

c. Gerenciamento de ciclo de vida de ativos: propicia a gestão de informações ao longo de todas as fases do ciclo de vida dos ativos. Desde a fase inicial do projeto – sendo ambiente próprio para o design de projetos –, etapas de comissionamento – ao possibilitar gestão de documentação e controle de alterações –, até a fase de operação e manutenção (O&M) – com gestão da manutenção e rastreamento de modificações nos sistemas. Além disso, uma propriedade essencial é a capacidade de integrar-se a outros sistemas e ferramentas, como softwares de modelagem 3De sistemas ERP. Com a plataforma de engenharia, todas as informações da planta podem ser gerenciadas de forma centralizada. 

d. Gerenciamento do fluxo de trabalho: permite modelagem de processos, via edição de arquivo base em XML. Fluxos de trabalho personalizados podem ser definidos a fim de padronizar procedimentos e controlar as etapas de atualização de projetos. Com efeito, pode-se definir etapas, responsáveis, prazos e formato de avaliação para aprovação dos trabalhos. Em conjunto às regras definidas no XML, pode-se estabelecer mecanismos para automatizar ações no fluxo de trabalho.

e. Suporte ao trabalho simultâneo: a plataforma de engenharia é colaborativa. Isso significa que é possível que usuários podem acessar e editar as informações simultaneamente. Com isso, há ganho de produtividade na equipe, com a melhor divisão de tarefas e redução de tempo para execução de projetos. Ademais, a sincronização automática das informações garante uma melhor coordenação na equipe, visto que não há risco de realização repetitiva de tarefa. Essa característica é fundamental em projetos que envolvem usuários de múltiplas disciplinas.

f. Automatização de tarefas: permite a configuração de scripts para automatização de tarefas repetitivas ou com lógica invariável. A possibilidade de inconsistência de dados é reduzida,uma vez que é mitigado risco de falha humana na execução de atividades – agora– automatizadas. Assim, promove-se economia de tempo e de recursos, posto que se pode gerar automaticamente diagramas e outros subprodutos do projeto.

2.3 Definição de metadados

O estabelecimento de metadados é componente primordial para a gestão eficiente das informações na plataforma de engenharia. Os metadados apresentam caráter descritivo, uma vez que armazenam a informação em si sobre os objetos. Portanto, a principal função desses elementos é categorizar os dados. A partir dessa classificação, há facilidade para busca de informações técnicas – consulta aprimorada de projetos e dados correlatos– e para gestão de projetos – conhecimento e controle sobre a documentação técnica dos ativos. Os metadados foram determinados tanto para o projeto em si(caderno) como também para cada folha.

Em relação ao caderno, foram estabelecidos os seguintes metadados:

- Nome do Desenho: consiste no nome do Caderno em questão, utilizando-se nomenclatura no padrão próprio Eletrobras Chesf.

- Sigla da SE: contém a sigla da subestação a qual o caderno pertence.

- Setor: identifica o setor referente ao vão do caderno ou folha.

- Evento: indica o elemento ou estrutura típica da subestação a qual o caderno pertence.

- Código do Vão: armazena o código do vão ao qual o caderno pertence. A nomenclatura segue um formato padronizado para identificação única de cada vão.

- Classe do Documento: identifica a categoria ou tipo de documento relacionado à subestação. O valor indica o conteúdo do documento.

- Palavra-Chave do Documento: contém texto descritivo relacionado com a Classe do documento.

- Última Revisão: indica o valor referente à última revisão do caderno.

- Regional: contém o nome da regional à qual pertence a subestação.

- Sigla da Regional: armazena a sigla utilizada para representar a regional.

- SE: identifica o nome da subestação à qual o caderno pertence.

- UAR – Modelos e Fabricantes: contém uma lista com os modelos e fabricantes dos equipamentos referenciados no caderno.

- IDLE: consiste em um código identificador do centro modular definido pela ANEEL e que guarda referência com os módulos construtivos de subestações.

- Local de Instalação (SAP): contém o código que identifica o local de instalação das UAR (ativos remunerados pela ANEEL) cadastradas no SAP, estando tal código em conformidade com a estrutura hierárquica definida pela Eletrobras.

Para a folha, os seguintes metadados foram cadastrados:

- Código da Folha: armazena o valor referente ao código da folha. Este campo é utilizado para numerar e identificar cada folha dentro do caderno.

- Última Revisão: indica o valor referente à última revisão da folha do caderno.

2.4 Estabelecimento de estrutura da informação

A definição de regras para estruturação dos documentos no repositório visa garantir uma organização eficiente.Essa estrutura padrão para o armazenamento de documentos facilita a localização e a consulta aos dados. Com essa organização, há integridade dos dados e simplificação de seu gerenciamento e manutenção, quando da necessidade de adicionar novos conteúdos ou atualizar informações existentes. Outros benefícios associados à estruturação são o controle de acesso e a definição de permissões nos documentos. Dessa forma, essa organização torna a gestão de informações mais segura, uma vez que a alocação coerente dos documentos no repositório facilita o controle. Utilizando-se de informações provenientes dos metadados dos cadernos, estabeleceram-se critérios organizacionais para os documentos. 

Como primeiro elemento de estruturação, estabeleceram-se pastas de Regionais para divisão dos documentos(além de uma pasta geral para documentos pertencentes a múltiplas subestações/regionais),consoante Figura 1. Como segundo elemento de organização, dentro de pastas das regionais, encontram-se as subestações, ver Figura 2. A documentação de cada subestação está concentrada em relação ao código do vão, sendo este o terceiro elemento de estruturação, conforme Figura 3.

Figura 1. Organização por Regionais
Figura 2. SEs nas regionais
Figura 3. Documentação das SEs

2.5 Modelagem do fluxo de trabalho

Com a modelagem de fluxo de trabalho de agentes, definem-se papéis, etapas e procedimentos de modo padronizado.Nesse contexto, foram definidos quatro agentes envolvidos no gerenciamento da documentação técnica: Gerente, Projetista, Mantenedor e Fornecedor – sendo apenas este último desempenhado por profissionais externos à Eletrobras Chesf. Além disso, estabeleceram-se status para a documentação, relativos a cada agente interno. Com efeito, a partir da programação de transição de etapas, de ações executadas automaticamente e da sequência padronizada de atividades, o fluxo de trabalho dos agentes foi definido. Essa modelagem foi estabelecida através da edição de arquivo XML cuja configuração é obedecida pela plataforma de engenharia.

A atuação dos agentes no fluxo de trabalho GDTEC se complementam a partir de uma série de ações que definem os status dos documentos: liberação e bloqueio de acessos, envio de notificações automáticas (e-mails), definição de prazos para atividades, registro automático de informações em metadados, criação de revisões para o documento, aprovação(ou reprovação) de modificações, entre outras. O grande mérito da modelagem do fluxo de trabalho é a padronização de todo o procedimento para a atualização da documentação técnica. Foram previstas atualizações provenientes desde novos empreendimentos (em geral, elaborada por Fornecedores), até modificações na documentação provenientes da manutenção. A partir do controle de todas as ações nas transições de status, garante-se a manutenção da versão aprovada mais atual do documento no repositório.

Além disso, essa modelagem possibilitou a aplicação de Business Intelligence na gestão de projetos.Os dashboards, integrados ao banco de dados da plataforma de engenharia,proporcionaram uma visão detalhada do status de projetos. A ferramenta garante transparência em todas as etapas dos processos de cadastramento ou atualização da documentação.Com a definição de papéis, etapas e procedimentos padronizados para os agentes envolvidos, foi possível monitorar o progresso dos projetos, identificar problemas de forma proativa e analisar métricas de produtividade das equipes,como tempo de revisão e atrasos em entregas.

2.6 Critérios de validação de digitalização

Em virtude da existência de projetos de SPCS impressos (ou até originalmente em papel) presentes nas instalações ou nas sedes regionais de manutenção, foi necessário estabelecer regras para aceite de material digitalizado. Essa definição de critérios de validação de digitalização é indispensável para garantir a integridade dos documentos a serem cadastrados no repositório. Para tanto, fundamentou-se em Normas Brasileiras Regulamentadoras (NBRs) pertinentes, em particular NBR 5426 (4) e NBR 5427 (5). Desse modo, definiram-se critérios para a qualidade da digitalização, fator essencial na manutenção da legibilidade dos registros digitais. Para tal, listam-se os principais critérios: formato de arquivos,orientação, integralidade, tamanho padronizado, resolução, legibilidade e ondulação.

Assim sendo, determinou-se processo sequencial para a revisão e aprovação das digitalizações dos documentos. Estas etapas foram desenvolvidas para garantir que os registros digitais atendam aos critérios de qualidade estabelecidos. Dentre as etapas, destacam-se o sorteio de folhas avaliadas do lote e a inspeção de amostra, com limite definido para de feitos críticos, graves e toleráveis. Caso o lote de digitalização avaliado seja reprovado, o processo deve ser refeito; ao passo que, em cenário de aprovação, o lote segue para etapas de cadastramento.

2.7 Critérios de validação de cadastramento

Após processamento, revisão humana e cadastramento de documentos, o lote inserido na plataforma deve passar por avaliação. Baseando-se ainda nas NBR 5426 (4) e NBR 5427 (5), foram definidos critérios para determinar tamanho da amostra, severidade de inspeção e o limite de defeitos. Para esse processo, o avaliador utiliza ferramenta computacional apresentada em (6) – solução também utilizada no processamento para extração de metadados por meio de inteligência artificial. Na interface de validação, folhas em quantidade amostral dos documentos cadastrados são exibidas em conjunto com respectivos metadados. Assim, o avaliador confere se os metadados do caderno e da folha estão coerentes. Erros nesse cadastro são considerados defeitos críticos/graves (para caderno) ou toleráveis (na folha). Além disso, a última etapa de validação é a conferência dos documentos cadastrados em relação à estrutura destes na plataforma de engenharia, de acordo com padronização estabelecida (item 2.4). Erros na estrutura são considerados críticos. A depender da existência de defeitos críticos ou da quantidade de toleráveis, o cadastramento pode ser reprovado, devendo ter metadados e/ou estrutura corrigidas. Caso haja reprovação, o lote deve ser corrigido e reavaliado até aprovação.

2.8 Definição de itinerário de digitalização

A fim de otimizar o processo de digitalização e carregamento de documentação técnica em repositório, foi definido itinerário de digitalização. Os critérios adotados para a definição da ordem das visitas às regionais consistem na menor distância geográfica da sede da empresa responsável pela digitalização e a existência de menos obras e mandamento – com o intuito de evitar retrabalho. Desse modo, definiu-se roteiro para visita às 7 (sete) regionais da Eletrobras Chesf.

 

2.9 Cadastramento de projetos digitalizados

Para o cadastramento de projetos foi utilizada solução que usa inteligência artificial para identificar e extrair os metadados relativos de cada projeto (6). Além disso, a solução inclui uma interface intuitiva que permite revisão e validação dos dados conforme NBR 5426(4) e NBR 5427 (5). A ferramenta destaca defeitos e facilita a identificação de informações que devem ser corrigidas. A importação de projetos na plataforma de engenharia foi automatizada por meio do desenvolvimento de rotina computacional que performa a importação dos documentos no repositório com respectivos metadados. Desse modo, garante-se a qualidade dos dados da documentação,provenientes de esforços computacional e humano. Além de cadastrar os projetos com devidos metadados, a solução da plataforma de engenharia insere o documento em posição correta dentro de estrutura padronizada no banco de dados.

2.10 Acompanhamento de implementação

Para acompanhamento do processo de implementação de sistema de gestão, adotou-se metodologia ágil Scrum. Essa escolha foi pautada na necessidade de agilidade para tomadas de decisão nos processos de digitalização, cadastramento e validação da documentação técnica do repositório. A flexibilidade proporcionada pela metodologia é essencial para o gerenciamento: através de Sprints a cada 3 (três) semanas, definiram-se metas para cada processo, havendo revisões (Sprint Reviews) e retrospectivas (Sprint Retrospectives) para melhoria contínua de implementação. Ademais, as reuniões diárias (dailys) proporcionaram uma comunicação constante entre os membros das equipes. Essa abordagem facilitou a identificação de problemas e impulsionou ações corretivas céleres. A colaboração constante e agilidade de tomada de decisão são fatores cruciais para o sucesso da implementação do sistema de gestão.

3.0 RESULTADOS

A adoção da metodologia EIM,aliada à plataforma de engenharia e à solução de inteligência artificial para extração de metadados, possibilitou a centralização e estruturação da documentação técnica de SPCS da Eletrobras Chesf. A implementação desse novo sistema impulsionou uma mudança cultural da organização, direcionando-a para a modernização da gestão de informações e processos de SPCS. Atualmente, o banco de dados possui documentação de 52 (cinquenta e duas) subestações das 7 (sete)regionais, composta por mais de 6.100 (seis mil e cem) projetos cadastrados e cerca de 203.000 (duzentos e três mil) folhas. Para cada projeto, foram registrados13 (treze) metadados, ao passo que para cada folha foram registrados 2 (dois). Tais resultados foram alcançados durante 11 (onze) meses de esforços contínuos na digitalização, revisão, cadastramento e validação dos documentos técnicos de SPCS.

Para exemplificar a transformação na acessibilidade dos dados, apresenta-se caso de consulta por documentação modelona base de dados da Eletrobras Chesf. Utilizando-se de recurso da plataforma de engenharia, pode-se estabelecer filtro por características do projeto.Buscando-se por projetos “Funcionais”, de “Linhas”, de “230 kV” e com modelo “REC670”de relé digital, tem-se o seguinte resultado, conforme Figura 4. Desse modo, a plataforma de engenharia permite navegação até qualquer projeto filtrado na busca, havendo possibilidade de consultar respectivas folhas, ver Figura 5.

Figura 4. Consulta de Documentação no Banco de Dados

Figura 5. Documento Filtrado em Pesquisa no Repositório

Com efeito, é notório a facilidade com a qual a documentação técnica pode ser consultada. Nesse sentido, outra característica que é fortalecida pelo repositório central é a confiabilidade dos dados. A despeito do elevado volume de documentos, a integridade dos metadados dos projetos foi mantida. Lograr dessa característica é desafiador:caso a revisão e o cadastro sejam manuais (havendo 100% de esforço humano), o trabalho demandaria anos para ser realizado. Contudo, a partir da combinação entre esforço computacional para extração de informações e revisão humana para garantir o alto grau de precisão, a qualidade da informação no banco de dados foi alcançada.

4.0 TRABALHOS FUTUROS

A implementação de novo sistema de gestão de informações e processos na Eletrobras Chesf tem caráter inovador em cenário nacional. Nesse contexto, a utilização da plataforma de engenharia associada à metodologia EIM expande horizonte de novas iniciativas de gestão da informação. A seguir, enumeram-se algumas propostas para o curto prazo.

Em primeiro lugar, visa-se a expansão da gestão de informações correlacionadas a SPCS através do repositório central: o cadastramento, controle e a emissão de ordens de ajuste (OAs). Baseando-se nas diretrizes do EIM, pretende-se estabelecer integração das OAs com funcionalidades oferecidas pela plataforma de engenharia. Com isso, vislumbra-se melhoria em consulta de ajustes, controle de modificações e versionamento, e agilidade em análise de ocorrências.

Em segundo lugar, outra ação inovadora proporcionada pelo uso de plataforma de engenharia e metodologia é a rastreabilidade de alterações em projetos de SPCS. A plataforma possibilita o estabelecimento de modelos de informações específicas para acompanhamento.Assim, garante-se controle detalhado das mudanças realizadas ao longo de novas versões de projetos de SPCS no ciclo de vida dos ativos. Como exemplo, podem-se rastrear modificações em aspectos como: lista de cabos, lista de materiais, fiação,conexões de bornes, entre outros.

Uma etapa emergente com várias evoluções para a gestão de informações é a criação de projetos nativos – ou seja,modelados de forma completa diretamente na plataforma de engenharia. Esse desenvolvimento pode ocorrer para plantas novas ou a partir de conversões de projetos legados – isto é, digitalizados ou em formato digital descentralizado. Essa modelagem permite um maior detalhamento dos dados e a integração com funcionalidades avançadas da ferramenta, como automação de processos, controle detalhado de versionamento e rastreamento de modificações – com o histórico de objetos que registra o responsável e a data de modificação para cada elemento inserido, modificado ou excluído do projeto. Assim, é possível tornar a consulta de dados mais eficaz e obter um arcabouço técnico mais detalhado para análises. 

Finalmente, almeja-se realizar cadastro de informações referentes ao SAP, SGPMR (Sistema de Gerenciamento dos Planos de Melhorias e Reforços) e BDIT (Base de Dados de Instalações de Transmissão) no banco de dados. Utilizando-se de recurso de criação de atributos próprios na plataforma de engenharia, pretende-se cadastrar informações relativas aos sistemas citados e estabelecer gerenciamento centralizado desses dados a fim de melhorar a gestão dos ativos e ampliar a base de remuneração.

5.0 CONCLUSÃO

A solução implementada na Eletrobras Chesf representa um avanço significativo na gestão de informações e processos de SPCS. O repositório central armazena a documentação técnica de SPCS das regionais com respectivos metadados. Conforme cenário anterior, a documentação técnica estava fisicamente presente em diferentes localizações (instalações e sedes de regionais de manutenção), as quais apresentam por vezes distância de centenas de quilômetros entre si. A modernização do sistema de gestão promove a centralização digital dos documentos técnicos. Essa ação eleva o grau de confiabilidade da documentação, facilita o acesso à informação e reduz substancialmente o tempo de consulta e localização de documentos. Com efeito, além da mitigação da documentação dispersa, o banco de dados central reduz os problemas relativos ao versionamento dos projetos e padroniza procedimentos de atualização de projetos.

A velocidade para a busca de documentos, especialmente importante durante ocorrências no sistema elétrico de potência, foi consideravelmente reduzida. Essa melhoria foi alcançada graças à classificação validada de toda a documentação técnica com metadados. A fim de buscar um documento, pode-se acessá-lo diretamente na estrutura padronizada do repositório, bem como estabelecer filtros para consulta direcionada. Nesse sentido, outro benefício alcançado foi a universalização do acesso à documentação técnica. Caso a permissão de acesso esteja concedida, qualquer colaborador da organização pode acessar de modo virtual o documento,independentemente de cargo ou de sua localização geográfica. Assim, elimina-se a necessidade de viagens dispendiosas para acesso aos projetos. Destaca-se que a edição de documentos somente é permitida mediante liberação, de modo que se aumenta a segurança sobre os projetos. Em acréscimo, informações sensíveis podem ter controle de acesso definidas, com o intuito de permitir visualização apenas a usuários específicos.

Outro impacto significativo da implementação de sistema de gestão é relativo ao controle de versionamento de projetos. O processo de revisão e aprovação da documentação técnica foi padronizado. Com a modelagem do fluxo de trabalho – definição de papéis, etapas e transições –, as atualizações do documento ocorrem dentro da plataforma de engenharia, de modo que a versão mais atualizada deste está disponível no banco de dados. Além da versão mais atualizada, a plataforma armazena todas as versões aprovadas do projeto – desde o cadastramento do documento –, o que possibilita rastreabilidade das modificações promovidas. As ações automáticas em transição de status são notáveis: há notificação via e-mail sobre tarefas ou atrasos em prazo, registro de informações relativas a responsáveis e datas, e geração de PDF completo de versão mais atualizada – que é armazenada na própria plataforma. Desse modo, inconsistências são consideravelmente reduzidas no versionamento dos projetos de SPCS.

Com efeito, a implementação de sistema de gestão de informações e processos de SPCS na Eletrobras Chesf demonstrou-se uma iniciativa transformadora. A adoção de plataforma de engenharia, aliada à metodologia EIM e à solução de inteligência artificial para extração de metadados, permitiu a criação de banco de dados robusto para a documentação técnica de SPCS. Desse modo, é notável impacto positivo substancial para o departamento de operação e manutenção da empresa. Os benefícios da modernização são observados na velocidade para resposta a ocorrências e eventuais problemas ou necessidades da manutenção. O processo de implementação reforça a importância do investimento em tecnologia e inovações, essenciais para enfrentar os desafios contemporâneos do setor elétrico.

6.0 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

(1) CHEN, Y.et al. Research on Deep Learning-based AI Information Extraction Methodsof Substation Engineering Design, 2021 4th International Conference onEnergy, Electrical and Power Engineering (CEEPE), Chongqing. 2021. Disponível em:<https://ieeexplore.ieee.org/document/9475686>. Acesso em: 01 de ago.de 2024.

(2) ROYALINSTITUTION OF CHARTERED SURVEYORS – RICS. International BIM implementationguide. Londres, 2016. 1. ed. Disponível em:<https://www.rics.org/profession-standards/rics-standards-and-guidance/sectorstandards/construction-standards/international-bim-implementation-guide>. Acesso em:05 de ago. de 2023.

(3) MA, Z.M. Engineering information modeling in databases: needs and constructions, IndustrialManagement & Data Systems, [S.l.], v. 105, n. 7, p. 900-918, 2005. Disponível em: <https://www.emerald.com/insight/content/doi/10.1108/02635570510616102/full/html>. Acesso em: 05 de ago. de 2024.

(4) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMASTÉCNICAS. Planos de amostragem e procedimentos na inspeção por atributos– NBR 5426. Rio de Janeiro, 1985.

(5) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMASTÉCNICAS. Guia para utilização da norma NBR 5426 – Planos de amostrageme procedimentos na inspeção por atributos – NBR 5427. Rio de Janeiro, 1985.

(6) COSTA, L. F. et al. A Methodologyfor Extracting Metadata from PAC Documentation via Natural Language Processing,XIX ERIAC – Décimo Nono Encontro Regional Ibero-Americano do Cigré, Fozdo Iguaçu. 2023.